O presidente da Câmara dos Deputados e deputado federal pela Paraíba, Hugo Motta (Republicanos), surpreendeu durante entrevista concedida nesta quarta-feira (19) à Rádio Arapuan. Conhecido historicamente como uma figura conciliadora no cenário político estadual, o parlamentar adotou um tom ríspido, demonstrando irritação com a imprensa e pouco domínio da narrativa em torno do cenário eleitoral paraibano.

Durante a entrevista, Hugo acusou os veículos de comunicação de anteciparem o debate sobre as eleições de 2026, classificando como “obsessão” a cobertura do tema. A crítica, no entanto, chamou atenção pelo contraste com os próprios movimentos políticos do seu grupo familiar. Sua irmã, Olívia Motta, já se apresenta como pré-candidata à Assembleia Legislativa, enquanto seu pai, o ex-prefeito Nabor Wanderley, articula discretamente uma possível candidatura ao Senado. A incoerência entre o discurso e as ações de bastidores não passou despercebida.

Na tentativa de apontar culpados pela antecipação do debate eleitoral, o deputado ignorou o fato de que diversos líderes políticos paraibanos já se colocaram publicamente como pré-candidatos. Cícero Lucena, João Azevêdo, Efraim Filho, Pedro Cunha Lima, Cabo Gilberto, Pastor Sérgio Queiroz, Marcelo Queiroga e o próprio Adriano Galdino — presidente da Assembleia Legislativa e correligionário de Hugo — são alguns dos nomes que já declararam interesse ou estão em movimento no tabuleiro eleitoral.

Ao abordar a composição de chapas para a disputa majoritária, Hugo protagonizou o momento mais controverso da entrevista. Questionado sobre possíveis alianças e articulações, simplesmente ignorou o nome do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), que lidera as pesquisas de intenção de voto para o Governo do Estado. O silêncio em torno de Cícero causou estranhamento e foi interpretado por analistas como um gesto político calculado — ou, no mínimo, um deslize estratégico.

A entrevista ainda ganhou tom constrangedor quando Hugo evitou declarar apoio à pré-candidatura de Adriano Galdino ao Governo do Estado. Limitou-se a dizer que o Republicanos só indicará nomes com “força eleitoral”, sem citar diretamente o aliado. A postura reservada do presidente do partido em relação a um dos principais nomes da própria legenda alimentou especulações sobre divisões internas e falta de coesão no grupo político.

A reação do parlamentar e seu comportamento durante a entrevista acenderam um sinal de alerta sobre a nova fase que atravessa. De conciliador equilibrado, Hugo Motta parece se distanciar da imagem que o consolidou na política paraibana, revelando uma faceta mais impaciente, centralizadora e contraditória. Uma guinada que pode custar caro no momento em que lideranças estaduais ensaiam a montagem dos palanques para as próximas eleições.

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